Para começar, é essencial saber o que é e para que serve essa tal biossegurança. Segundo Pedro Teixeira e Silvio Valle, autores de Biossegurança, uma Abordagem Multidisciplinar (Editora Fiocruz), ela significa “o conjunto de ações voltadas para a prevenção, minimização ou eliminação de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, visando a saúde do homem, dos animais, a preservação do meio ambiente e a qualidade dos resultados”.
Nas palavras de Daniela Pontes, que desde 2011 é coordenadora técnica do Congresso de Depilação da Beauty Fair: “A biossegurança é aplicada no ambiente de trabalho com objetivo de reduzir e até mesmo evitar riscos de contaminação, protegendo e dando segurança a profissionais e clientes”. Isso quer dizer que a conduta deve ser seguida em todos os espaços ligados a beleza e bem-estar, de salões, barbearias e clínicas de estética a spas. Sua importância no setor de unhas, com a utilização de acessórios esterilizados corretamente e de itens descartáveis, já é conhecida. Mas na depilação, ela ainda não tem a atenção devida.
INIMIGOS INVISÍVEIS
Um dos principais erros é achar que o produto fica livre de micróbios ao ser aquecido. “É mito acreditar que a temperatura da cera (38°C) mata os microrganismos. Ao contrário, no lugar de eliminá-los, o calor e a umidade estimulam sua proliferação”, afirma Daniela Pontes. Os problemas que esses minúsculos seres trazem são muitos e graves. “Podem ser transmitidas doenças causadas por fungos, como as micoses, por bactérias, como foliculite e furunculose, e até por vírus, como HPV, herpes, hepatite B e C, gripe e HIV”, afirma a expert, citando o relato do dermatologista Elso Elias Vieira (PR), que diz ser possível relacionar uma enfermidade com a depilação caso a pessoa procure ajuda médica rapidamente. “Se a cliente fez o procedimento e logo aparece uma lesão, existe a possibilidade de ter sido adquirida durante o ritual.
O médico fará um laudo pericial e poderá pedir exame complementar para comprovar a contaminação”, alerta ela, mencionando o caso de uma professora que teve infecção grave na virilha após ser depilada e precisou passar por cirurgia. “A biópsia apontou a presença de coliformes fecais, Staphylococcus aureus, fungos e metal não identificado, entre outros componentes. Hoje ela convive com uma cicatriz profunda e não pode usar nada que aperte a região, caso contrário, infecciona na hora”, comenta.
Mas a reutilização da cera é apenas um dos disseminadores de moléstias. A falta de limpeza e o reúso de material descartável representam igualmente perigo. “Ouço relatos de profissionais que dizem receber clientes em péssimas condições de higiene. E como existem aquelas que usam uma única espátula no serviço, imagine o estado do produto que sobrou. Há, ainda, a possibilidade de a doença ser transmitida pela depiladora, caso ela tenha verruga no dedo e faça o procedimento sem luvas, por exemplo”, avisa.
MIL IMPEDIMENTOS
A desinformação é um dos empecilhos para a aplicação da biossegurança. “Nem toda depiladora fez curso na área, então acabou aprendendo na prática, sem conhecimento teórico. Além daquelas que pensam matar os microrganismos com a temperatura, há as que não sabem o motivo de não poder voltar a espátula na termocera e as que aplicam o roll-on diretamente na pele e não na tira de TNT.
Com esse panorama, entendemos que nem todas as instituições ensinam da forma correta”, reflete a coordenadora do Congresso de Depilação. O custo é outro impedimento apontado pela especialista. Para não gastar dinheiro, tem quem não descarte os acessórios e até quem fabrique a própria cera! “Há relatos de profissionais que trabalham em salões e clínicas de estética cujos donos não aceitam gastos com materiais descartáveis, por isso o uso é controlado. Sem contar os locais onde a cera é reciclada. Se a cliente souber dos cuidados que o estabelecimento toma, ela pagará mais. Não se pode ter medo de incluí-los no seu valor, mas explique o que está fazendo durante todo o serviço de depilação”, aponta Daniela.
E MUITAS AÇÕES
Ao lado dos empecilhos estão as diferentes atitudes que todos devem tomar. “A melhor maneira de conscientizar os profissionais é a educação continuada, como a que oferecemos nos congressos e workshops, e a supervisão feita pela Anvisa. Além da cobrança da clientela, é claro”, acredita a especialista, que detalha as ações para incorporar a biossegurança no dia a dia:
Texto: Annamaria Aglio (edição de web: Patricia Santos)
Fotos: Shutterstock e divulgação