Eduardo Muller foi um garoto que não sabia jogar futebol, empinar pipa, nem jogar peão. Acabou descobrindo sua vocação de outra maneira: a família, extensa, não podia pagar por cortes de cabelo. Assim, tomou a tarefa para si. “Aos poucos, os vizinhos começaram a me procurar também. Eu me apaixonei pela função e buscava informação em todo canto. Lia, entrava nos salões do bairro e ficava espiando, acessava internet em lan house para ver como outros profissionais faziam… Com dinheiro contado, ia à Galeria do Rock (centro comercial em São Paulo) para ver as novidades que surgiam por lá”, lembra.
Com a ajuda do pai, fez cursos e investiu em material. Não era fácil: de manhã, estagiava em um banco. Depois, trabalhava como barbeiro até altas horas da noite. Foi quando teve a ideia que o levaria a outro patamar: “Comecei a fotografar os cortes mais ousados e a postar nas redes sociais. Então, marcava algum famoso e escrevia um recado: ‘Fulano, olha só que bacana seria este look em você’, ou ‘Sei que a sua vida é pura correria, mas já pensou em ter um barbeiro em domicílio? Meus serviços estão disponíveis’”.
Para espanto dele próprio, a estratégia deu certo. Um dia, um jogador de futebol do Corinthians ligou. “Assim conquistei essa clientela tão especial: mostrando excelência no meu trabalho, mas com uma pitada de ousadia e cara de pau”, diz. Hoje, Eduardo é dono do seu próprio espaço, a Barbearia Muller, com duas unidades em São Paulo.
Aqui, suas orientações para se dar bem na profissão:
“Quando comecei a entender esse mundo da barbearia, o Eric Pacinos chamou a minha atenção. Ele tem um estilo muito pessoal, faz cortes detalhados e surpreendentes. Queria ser como ele.”
“Não foi fácil fazer a transição entre o amigo que cortava o cabelo dos outros na camaradagem e o profissional que cobrava pelo seu trabalho e merecia respeito. Tive que provar meu valor. Agora faço isso trazendo novidades, inovação e credibilidade para meu estabelecimento. Hoje posso ser chamado de barbeiro-empresário.”
“Fui estagiário mais de uma vez e aprendi muito, desde postura com o cliente e cuidados em falar o português correto até a administração do negócio.”
“Execute seu trabalho da melhor maneira, independentemente de fama, origem, classe e poder aquisitivo. Até porque, conhecendo-os mais a fundo, posso afirmar que o que eles menos gostam é de serem tratados de maneira diferente”, aconselha Eduardo Muller.
Fotos: Gustavo Morita e reprodução