De tanto ouvirem falar sobre a classificação das cabeleiras por meio de letras e números, algumas empresas de cosméticos acabaram lançando produtos com essa identificação. A Salon Line, que tem itens profissionais e para a consumidora final, embarcou na onda com a marca #Todecacho, específica para esse público. A linha conta, por exemplo, com a Máscara Tratamento pra Abalar!, indicada para “curvaturas 2ABC, 3ABC e 4 ABC”.
Mas, afinal de contas, de onde vem e para que serve essa tática de identificação das madeixas?“Eu desenvolvi o hair typing system em 1997, quando estava escrevendo o livro Andre Talks Hair, porque precisava determinar os diferentes tipos de fio sobre os quais falava”, esclarece o cabeleireiro norte-americano Andre Walker, que não apenas criou o tão falado sistema como cuidou das madeixas da superpoderosa apresentadora Oprah Winfrey por mais de duas décadas (veja entrevista exclusiva no final deste post). Em seu método, o expert separou os cabelos em quatro categorias – Lisos, Ondulados, Cacheados e Crespos –, e cada uma delas apresenta suas características e seus respectivos subtipos. Acompanhe nas páginas a seguir como funciona e como aplicar a classificação no dia a dia do salão.
Segundo Andre Walker, seu gráfico pode ser usado por qualquer pessoa, não importa raça, sexo ou idade. “Basta olhar para o fio natural molhado e compará-lo com as ilustrações, identificando o tipo de cabelo das clientes”, ensina ele, completando que, assim, o profissional pode escolher os produtos mais adequados a cada um. Depois desse método vieram outros. Como o divulgado pelo site Naturally Curly, além de abolir a categoria dos lisos, foi acrescentada a letra C aos números 3 e 4, sendo que todos são representados por fotos e já foram infinitamente compartilhados nas redes sociais.
Apesar de agradar às cacheadas, essas tabelas não são unanimidade nos salões. Para Robson Trindade, do Red Team (SP), existem outras classificações, principalmente em um país caracterizado pela miscigenação. “No mercado de beleza, os cabelos são denominados como caucasoides (lisos), mongoloides (ondulados) e negroides (crespos). Mas eu elenco, ainda, o semiliso, o ondulado achatado, redondo ou ovalado, entre outros”, considera. O profissional Wilson Farias, do salão Etnic (SP), usa duas tabelas: uma com imagens de famosas para que a clientela se identifique e outra com 12 modelos, trazida de um curso de tricologia no exterior. Bruno Dante, da Clínica dos Cachos (SP), diz que o sistema de Walker é completo quanto às texturas, mas não o único. “É vital definir as características de couro cabeludo, como normal, seco, oleoso, normal para seco e normal para oleoso.
Um cabelo 3A, por exemplo, pode ter couro normal a oleoso, enquanto outro 3A, de normal a seco. Sem contar que, geralmente, encontramos mais de duas numerações na mesma cabeça”, assegura. E Fernando Paolo, do Studio Fernando Fernandes (SP), considera a tabela interessante mas afirma que inclui os frisados à classificação. “São aqueles que não possuem cachos, porém uma marcação existente que gera pequenas curvaturas”, explica o profissional especializado em crespos.
Com fios retos, divide-se em 1A (liso fino, sem volume e oleoso, é praticamente impossível de ser modelado), 1B (liso médio, permite um leve styling) e 1C (mais grosso e pesado, típico das orientais, cujos penteados não costumam durar muito tempo).
De raiz mais lisa, os fios se parecem com um “S”. Também é subdividido em três: 2A (com ondas leves no comprimento e pouco volume), 2B (de ondulação média) e 2C (fio de curvatura mais fechada e com tendência ao frizz).
Conhecido pelo movimento espiralado, pode ser separado em 3A (os cachos são mais abertos e definidos) e 3B (caracóis apertados e propensos ao ressecamento e também ao embaraço).
É o tipo mais sensível e extremamente ressecado, pois a oleosidade produzida junto à raiz não é distribuída ao longo do fio. Pode ser 4A (como molinhas, são mais arredondados e fechados) e 4B (sem definição e bem estreitos, se parecem com um Z).
Quem é o criador do hair typing system
Natural de Chicago, no estado de Illinois, nos Estados Unidos, aos 14 anos, Andre Walker já tinha a certeza de que desejava ser hairstylist. “Adorava cuidar dos cabelos de familiares e amigos”, recorda-se ele, afirmando ter se apaixonado pela carreira desde então. Empreendedor nato, certo dia ele mandou uma mensagem para a apresentadora Oprah Winfrey, oferecendo-se para fazer o visual dela. “Ela disse que sim e, 25 anos mais tarde, eu continuava sendo seu cabeleireiro”, conta.
Aqui, a entrevista exclusiva concedida à CABELOS&CIA!
Como foi trabalhar com a Oprah por tanto tempo?
Não amei somente elaborar os seus looks, mas também a nossa amizade. Eu a produzi em todas as ocasiões, inclusive para as capas de sua revista, por mais de sete anos. Fazer parte de sua vida me proporcionou conhecer pessoas muito interessantes.
Conte-nos sobre o hair typing system.
Desenvolvi esse método em 1997, quando estava escrevendo o meu livro Andre Talks Hair, pois precisava determinar os diferentes tipos de cabelo sobre os quais falava.
A sua tabela serve para o cabelo das brasileiras?
Sim. Independentemente da raça ou da nacionalidade, o gráfico pode ser usado por todos, inclusive homens e crianças. A melhor maneira de utilizá-lo é olhar para o fio natural enquanto ele estiver molhado e compará-lo com as ilustrações do gráfico. Os hairstylists empregam o sistema da mesma maneira, identificando o cabelo das clientes e ajudando na escolha dos produtos adequados a cada uma.
Você também criou uma linha de cosméticos capilares…
O The Gold System, Andre Walker Hair, atende a fios altamente texturizados, dos ondulados e cacheados aos crespos. Os produtos contêm líquido umidificador e óleo de mongongo, importantíssimo para esses cabelos. A linha é composta por Ultimate Moisture Shampoo (xampu para todos os tipos), TKO (condicionador hidratante com proteínas) e três leave-ins: Get It Straight (para os tipos 2 e 3 que passam por escova e prancha), Beautiful Curls (usado nos 3 e 4 com secador e difusor, para controlar o frizz e definir ondas e cachos) e Beautiful Kinks (para caracóis tipos 3 e 4). Oferecemos também o Q Oil, que une argan e mongongo para adicionar brilho às cabeleiras. Não estamos disponíveis ainda no Brasil, mas esperamos estar aí num futuro próximo. Eu acredito que lavar e condicionar adequadamente, duas vezes ou mais por semana, devolve a umidade e garante madeixas bonitas e saudáveis. E isso recomendo para todos os tipos.
Qual é a sua dica para ser um grande profissional?
A única maneira de ser um hairstylist de sucesso é ter uma enorme paixão por cabelos. Amar a sua arte certamente irá fazer você ser reconhecido e atrair clientes. Trabalhar não deve ser encarado como tarefa. É divertido e gratificante se feito com paixão.
Texto: Annamaria Aglio
Fotos: Shutterstock, reprodução e divulgação.