10 fatos que você não sabia sobre Janine Goossens, mas que vão te encantar

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Quando chegou a São Paulo nos anos 1950, a parisiense Janine trazia consigo uma gigantesca vontade de deixar as pessoas mais bonitas. Ela nem desconfiava, mas seria uma das responsáveis por revolucionar o mercado brasileiro de salões de beleza

O termo francês ravissante significa “adorável”, pessoa que agrada, que toca os demais por seu charme e sua beleza. Pois Dona Janine é ravissante. Impossível não se deixar cativar por sua fala delicada, seus gestos elegantes e seu sorriso. Com brilho no olhar, ela relata episódios de sua trajetória e doces lembranças: a infância em Paris, a chegada a São Paulo, o encontro com Jacques, o pedido de casamento… Memórias que se fundem com a história do mercado de beleza brasileiro. Afinal, essa senhora de 78 anos, que até os 70 atendeu sua clientela, implementou no País a profissão de esteticista. Foi pioneira, também, na maquiagem social e, junto com seu marido, construiu a maior cadeia nacional de salões.

1. SENTIMENTO
“Não se pode definir a beleza. É algo que nos toca profundamente. Você pode ser sensibilizado pela harmonia das cores, das formas, dos gestos”, diz Dona Janine, que ainda menina teve o privilégio de conhecer o que era bonito: “Nasci no tempo da guerra, em uma família que, apesar da angústia, da tristeza e do desmoronamento
que um conflito armado pode provocar, não dispensava momentos de paz, que preservava o canto, a poesia. Minha mãe era costureira e fazia umas coisas tão lindas… Acredito também que ter crescido em Paris, uma cidade onde cada esquina é um encantamento, me permitiu estar envolta pelo belo. Tive muita sorte”.


Janine em uma apresentação da Intercoiffure no Rio de Janeiro

2. GUERRA E PAZ
Em 1957, o casal Rose e Felix Merlino embarcou com os dois filhos em um navio na Europa rumo a Santos, litoral do Estado de São Paulo. Lá a família entrou em um ônibus que subiu a Serra e seguiu até o centro da capital paulista. Chegando à Praça da República, a jovem Janine se sentiu protegida: “Assim que descemos, me deparei com um prédio que tem o formato de uma cruz e pensei: “Deus está me acolhendo aqui, o que vejo é a hospitalidade brasileira. Fiquei muito, muito emocionada”, relembra a esteticista e empresária, explicando em seguida por que a família deixou Paris: “Meu irmão, Mario, era amigo de escola do Richard Metairon – que depois também se tornaria um grande cabeleireiro aqui. Um dia, em um almoço na nossa casa, Richard nos falou sobre uma tia que vivia no Uruguai, mas achava o país monótono e, por isso, iria para o Brasil. Ouvindo essa conversa dos jovens, minha mãe começou a sonhar com uma mudança, pois o Mario estava atingindo a maioridade e deveria cumprir o serviço militar no norte da África, onde havia sérios conflitos na época. Meus pais se assustaram com a possibilidade de ver o filho em combates porque já tinham perdido vários primos e tios na Segunda Guerra. Então pensaram: ‘Vamos para um lugar de paz’”. A transferência foi planejada por meses: “Viemos extremamente orientados. Afinal, éramos quatro pessoas, estávamos deixando nossa casa e nossa família. Meu pai e minha mãe deram um passo muito sério”, conta Dona Janine, cujos avós já haviam emigrado da Itália para a França anos antes. Uma vez em São Paulo, os Merlino procuraram a Câmara de Comércio francesa a fim de obter colocação profissional: “Nosso orientador sugeriu um salão no qual comecei imediatamente. Eu já tinha formação como esteticista e queria trabalhar o máximo que pudesse para embelezar as pessoas”, diz. O diploma na área de estética, aliás, fora obtido em uma prestigiosa escola parisiense, a Harriet Hubbard Ayer. Localizado na Rue du Faubourg Saint-Honoré, o instituto era vizinho ao espaço de Alexandre de Paris, cabeleireiro mais importante da época.


Dona Janine entre o irmão Mário Merlino (à esquerda) e o marido Jacques Goossens (à direita) 

3. SAMPA
A São Paulo de 1957 estava longe de ser a metrópole instigante e caótica dos dias atuais. Quando aportou na capital paulista, Janine ficou encantada: “A Praça da República era linda, tinha um jardim com capivaras e aves. E a cidade não era barulhenta, demorava para passar um carro na rua. Tanto que nem havia farol de
trânsito. Imagine que a Rua Augusta era atapetada para as festas de Natal! O salão em que fui trabalhar se chamava Sacha e ficava na Alameda Lorena. Tomava o bonde para ir até lá e achava uma delícia fazer o trajeto sentindo o vento no rosto. As pessoas eram sorridentes e amáveis. Eu usava umas luvinhas brancas e minha bolsinha típica dos anos 1950 e me sentia muito elegante”, recorda-se.


Recebendo o carinho do Rei Pelé no lançamento de seu livro Beleza Sempre

4. BEAUTÉ À LA FRANÇAISE
A jovem francesa não demorou a encantar o público sofisticado dos Jardins. Em um tempo em que o mercado brasileiro de beleza engatinhava, ela trouxe de Paris novidades inimagináveis. A começar pelo serviço de make-up, que não existia por aqui: “Fazia uma maquiagem social absolutamente embelezadora e as clientes se entregaram rapidamente”. Outra inovação eram os procedimentos estéticos. Mas, nesse caso, as mulheres foram um tanto reticentes: “Era algo muito novo. Naquela época, as pessoas acreditavam que ter uma pele conservada apenas lavando o rosto com sabonete, sem passar nenhum creme, era um privilégio. Daí eu vim com os protocolos, com toda uma metodologia de aplicação… Houve um pouquinho de resistência, sim. Mas quando você oferece o bem-estar, consegue conquistar”. A clientela de Janine só fazia aumentar com o boca a boca, o que a deixa orgulhosa: “Era incrível ter sucesso unicamente pelo meu trabalho”, diz.


Jacques executa um penteado…

5. JACQUES COIFFURE
Em 1952, o cabeleireiro Jacques Goossens deixou sua Paris natal para trabalhar em São Paulo. Aos 23 anos, ele aceitava um convite da L’Oréal para atuar no Sacha, badalado salão da Alameda Lorena. Ficaria 12 meses na capital paulista e, depois, retornaria para a França. Mas a clientela não o deixou ir embora. Seu sucesso na cidade era tanto que a Niasi montou um espaço exclusivo para ele, batizado com seu nome. O estabelecimento ficava na Oscar Freire, no requintado bairro dos Jardins. Um ano mais tarde, o coiffeur conseguiu pagar à empresa o valor do investimento, tornando-se proprietário do local.


…e um corte

6. L’AMOUR
A equipe do Sacha foi convidada por uma cliente para um piquenique em sua chácara, na cidade de Mogi das Cruzes, a 50 km de São Paulo. Morando no Brasil há menos de seis meses, Janine Merlino resolveu ir ao passeio com os colegas. Jacques Goossens, que já havia atuado no salão anos antes, também recebeu – e aceitou – o convite. Os dois franceses, ele com 27 e ela com 20 anos, ainda não se conheciam e sequer faziam ideia de que esse dia marcaria para sempre suas vidas. “Imagine: eu havia chegado aqui há pouco tempo e estava com uma saudade enorme de Paris. Então descubro um jovem que falava a minha língua, tinha uma profissão similar à minha e que, na França, era praticamente meu vizinho! Não nos conhecemos lá porque Deus não permitiu, mas certamente nos cruzamos algumas vezes, pois frequentávamos a mesma pista de patinação no gelo”, relata Dona Janine. Para ela, o encontro ocorreu no momento certo: “Estávamos prontos para nos sentir maravilhados um com o outro”, acredita.
A paixão foi tão forte que apenas três dias depois de se virem pela primeira vez, Jacques pediu a mão da moça. O casamento aconteceu em três meses e, em seis, o Jacques Coiffure deixava de existir. Surgia o Jacques Janine.


O casal em viagem à Índia

7. BELEZA POR INTEIRO
Em 1958, a Maison Jacques Janine abre suas portas na Rua Augusta, endereço onde se encontra até hoje. Já surgiu instaurando um novo conceito no mercado brasileiro. Afinal, tratava-se de um estabelecimento com grandes dimensões, que oferecia um cardápio completo de serviços capilares e estéticos. “O salão era um verdadeiro spa, coisa que não existia. Claro que hoje há locais até mais luxuosos, mas para a época aquilo era incrível, algo estupendo.” Desde o início, o casal focou na excelência do atendimento. “Nossa ambição era receber as clientes maravilhosamente bem, com uma entrega total”, frisa Janine. O movimento era intenso e Jacques chegava a fazer 50 cortes de cabelo em um único dia: “Nunca vi alguém trabalhar dessa maneira”, constata a esteticista. Além de exímio coiffeur, seu marido sabia identificar talentos: “O Richard, que também tinha vindo para São Paulo com a família, confeccionava bolsas de couro e meu irmão, Mario, o ajudava nessa tarefa. Quando o Jacques os viu, resolveu ensinar-lhes a profissão e ambos acabaram se tornando grandes cabeleireiros”.


Jacques e Janine ao lado das filhas e netos

8. A CONSTRUÇÃO DA MARCA
Conforme atuavam, Jacques e Janine compartilhavam o que sabiam com seus colaboradores. “Eles vinham de escolas como a Teruya, quelhes dava uma boa formação básica, e aperfeiçoavam seus conhecimentos conosco”, fala a empresária. Ela perdeu a conta de quantos esteticistas e cabeleireiros passaram pelos ensinamentos da dupla: “Nossa porta sempre esteve aberta, inclusive a pessoas que chegavam de todos os lugares, começavam como assistentes e depois acabavam ficando”. A mão de obra era, invariavelmente, absorvida nos novos salões que o casal abria, atendendo a uma demanda de mercado. No início dos anos 1980, quando o número de filiais chegou a 12, os proprietários decidiram optar pelo sistema de franquias: “Administrar tudo era um trabalho enorme, embora tivéssemos muita ajuda do Mario, que foi nosso sócio, e das nossas mães”, ressalta Janine. Aos poucos, as lojas foram sendo repassadas a funcionários e os fundadores ficaram com apenas duas: a Maison, na Rua Augusta, e a do Shopping Center Norte.

9. NA ATIVA
Hoje, 70 salões de beleza levam a marca Jacques Janine a diversos Estados brasileiros.A fundadora se mantém na administração do negócio e também se envolve nos assuntos pertinentes ao setor: “Não entendo por que nossa Presidente acha que uma pessoa pode trabalhar com beleza sem ter formação. Espero bom senso do governo nessa questão. Também é preciso regulamentar os profissionais parceiros. Na nossa empresa, contratamos assistentes, recepcionistas e demais colaboradores via CLT e temos um plano de carreira. Mas quando um cabeleireiro sai da condição de júnior e passa a ter um faturamento consistente, é dono do próprio nariz. Ele é chamado para atuar em eventos, semanas de moda e quer um sistema flexível, não deseja mais ser registrado”.


Entrada da unidade Augusta, em São Paulo

10. O FUTURO DA REDE
“Acho um privilégio estar com ele todos os dias. Mas, por outro lado, é uma preocupação, porque não posso ser avó o tempo inteiro. Afinal, temos um negócio para conduzir e não dá para ter o coração muito mole”, comenta Dona Janine a respeito do neto Olivier, que trabalha com ela na gestão da rede. A neta Chloé seguiu pelo caminho mais lúdico e se entregou à arte de maquiar: “Fico surpresa, pois ela faz coisas incríveis”, elogia. As filhas do casal, que praticamente nasceram dentro do salão, também atuam na empresa. Natalie é responsável pelo desenvolvimento dos cosméticos que levam o nome da grife – sonho antigo de Jacques –, enquanto Diane dirige a academia na qual os colaboradores se formam e têm constante aperfeiçoamento: “É uma bênção estar junto da própria descendência. Ver como eles são gentis, amáveis, bonitos. Isso é um presente”, conclui, com o olhar cheio de amor, a matriarca dos Goossens.


A rede estreia agora em solo norte-americano

Texto: Cristiane Dantas (edição de web: Patricia Santos)
Fotos: Divulgação Jacques Janine

 

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