Para executar um bom corte, é preciso se especializar e adequar os conhecimentos adquiridos ao seu estilo. “Como os cabelos cacheados se alongam quando molhados, muitas vezes o profissional acaba cortando mais do que o necessário. Isso só é percebido quando os fios secam e as ondas se retraem. E o que parecia ser pouco, faz muita diferença no comprimento”, comenta Denis Cunha, coordenador de produto da Aneethun Profissional.
“É um fio muito fino e com particularidades. A minha dica é que nunca deve ser cortado molhado. Assim há surpresas no retorno da fibra ao seu formato original”, concorda Robson Trindade, do Red Team. Ele também desaconselha o uso de navalha ou tesoura para desfiar neste tipo de cabelo.
“Isso deixa o cacho feio, com frizz e as pontas não o fecham. O ideal é prender os fios e cortar uma camada por vez, conectando uma com a outra. Até pode ser feito um repicado, mas não desfiado. As camadas sobrepostas, com mechas cortadas de forma reta, permitem uma finalização ideal”, completa.
E se durante muito tempo acreditou-se que franja não combina com cachos, desfiles e editoriais de moda das últimas temporadas têm mostrado que pode, sim! Estrelas como Juliana Paes e Taylor Swift já mostraram madeixas onduladas mais curtas, com franja e lindas! O look que remete aos anos 1980 pede análise do rosto para não evidenciar ainda mais traços de menos destaque. Ou seja, a moldura tem que favorecer o rosto.
Quanto ao comprimento, dá para trabalhar com todos os eles. Para os mais curtos, vale um Chanel mais diagonal. O ideal é que seja com nuca batida e com camadas enviesadas na parte de trás em direção à frente. As pontas devem estar na altura do queixo para trazer leveza e modernidade. O Chanel que forma um triângulo invertido é um look anos 1970 ideal para quem tem cachos mais fechados. O interessante aqui é retirar o volume da base, próximo ao pescoço, e manter no topo.
Já os médios, aceitam bem um leve degradê na parte frontal; assimétrico em camadas, com uma franja na altura do nariz e degradê até às pontas. Nos longos, o clássico, mas com leves camadas nas pontas ajuda a criar volume no comprimento. Para cachos mais fechados, o formato levemente arredondado, com camadas longas e simétricas, ganham suavidade com um desfiado da altura do queixo às pontas.
Em relação à cor, use produtos (colorações e descolorantes) com ativos de nutrição para amenizar o ressecamento. Afinal, a fibra já é frágil. “Um erro comum é desembaraçar na hora de aplicar a química. O ideal é que esse processo seja feito no dia anterior pelo profissional ou pela própria cliente. Assim, consegue-se agilizar a montagem e controle do tempo, evitando que as mechas fiquem com tons diferentes.
Também não é recomendado puxar mechas cravadas na raiz. Quando feitas desta forma, o cabelo fica extremamente marcado. Considerar três dedos de distância do couro cabeludo garante um acabamento mais moderno e sutil”, orienta Denis Cunha. O respeito ao tom de pele e tipo de cacho é muito importante aqui, segundo Robson Trindade.
A ideia é que a cor valorize o movimento e textura de cada cabelo. O formato espiralado já causa um efeito de jogo de cores, com sombra e luz. Os muito crespos, por exemplo, por serem mais fechados, podem trazer um resultado estranho. Quando as pontas são bem descoloridas, ao secar, chegam a ficar extremamente loiro por cima e escuro por baixo. Lembrando ainda, que, como costumam ser muito finos, a espessura e integridade dos fios devem ser avaliadas antes da descoloração. Isso para não os enfraquecer ainda mais.
Por serem mais secos, os cabelos cacheados devem ser lavados com menor frequência e com produtos específicos. “Para os muito ressecados, o ideal é optar por substâncias de limpeza bem suaves como as da técnica Low Poo. Nesses casos, a sugestão é higienizar uma vez por semana com xampu antirresíduos. Quanto à temperatura da água, deixe de morna para fria. Isso ajuda a preservar a integridade da cutícula, favorecendo o brilho e evitando ainda mais ressecamento. Vale orientar a cliente ainda, sobre o uso de leave-in repetidas vezes. O hábito gera um aumento significativo no depósito de carga de eletricidade dos fios, deixando-os mais difíceis de pentear. Também oriente a evitar escovações excessivas e pentes de material madeira”, ensina a dermatologista Ariane Paula Souza.
Os movimentos durante a lavagem também fazem a diferença para os cabelos cacheados. Eles devem ser suaves e já modelando os cachos, para distribuir bem o produto. O ideal é que o cosmético tenha alto poder de hidratação e nutrição, como os enriquecidos com óleos vegetais. Na hora de secar, faça naturalmente. Se não for possível, a opção deve ser pelo uso do difusor. “Um bom modelador ou fixador de cachos ajudam na definição, além de deixar os fios mais macios e com brilho. Após aplicação do finalizador, deve-se amassar o cabelo, com movimentos de baixo para cima, para formar os cachos”, orienta Denis. O cuidado com o secador se deve pela rápida desidratação da fibra, fazendo com que a água no seu interior ferva.
De acordo com a dermatologista, isso gera bolhas na superfície, que deixam cicatrizes arredondadas na cutícula. Robson também lembra do redutor de umidade, um equipamento que faz com que o calor vá em direção ao cabelo. Mas o vento é liberado para trás, o que ajuda a evitar fios arrepiados. E, na hora de desembaraçar, a melhor ferramenta são os dedos ou pente de dentes largos ou do tipo garfo. “O que faz diferença é não pegar uma mecha muito cheia, pois esta fibra rompe com facilidade, principalmente molhada. O ideal é separar em partes mais finas e ir desembaraçando aos poucos, de baixo para cima”, sugere Denis Cunha.
Segundo Robson Trindade, cabelo embaraçado quer dizer que ainda está com resíduos. A dica é retirar o excesso de produto com papel toalha. Quando tocá-lo e sentir que está bem macio, aí é o momento de finalizar. A escolha de produtos com ativos hidratantes ajuda a devolver vitalidade, brilho e sedosidade. Prefira os como óleos, manteigas e ceras vegetais e fortalecedores como proteínas e aminoácidos. O uso de máscaras com estas características também colabora com a reposição lipídica e de proteção à fibra.
Ok, os cabelos cacheados estão em alta e quem vem alisando há algum tempo deseja voltar à textura natural? Qual o melhor caminho? Afinal, cabelo cresce, mas leva um tempo e este período de transição incomoda bastante. “Para esta fase, modeladores e difusor ajuda a disfarçar a diferença de textura da raiz para meio e pontas. Porém, essa é uma solução que melhora, mas não resolve. Para quem não tem medo de ousar e optar por um cabelo mais curto, o Big Chop é, sem dúvida, uma solução”, opina Denis Cunha. O estilo do corte retira toda parte quimicamente processada dos fios. Mas, como nem todas as clientes estão dispostas a abrir mão do comprimento já surge no mercado a expressão desprogressivação. Ou seja, o desejo de eliminar a parte alisada sem corte já é um desafio para laboratórios da indústria cosmética. E alguns profissionais, como Robson Trindade, são simpatizantes da ideia. Há ainda, a opção de realizar uma permanente suave na parte alisada, em fios que foram processados com amônia. O que é vetado para os que receberam hidróxidos pela incompatibilidade das químicas.
Texto: Françoise Gregório (CABELOS&CIA BC)
Fotos: Shutterstock